Com o aumento do interesse dos brasileiros em cursar o Ensino Superior no exterior, é importante entender como funcionam os processos de admissão em instituições internacionais. Na maioria dos casos, os critérios são bem diferentes dos vestibulares que estamos acostumados no Brasil. Lá fora, o “candidato ideal” não é só aquele com boas notas em um provão; as universidades observam o desempenho acadêmico dos últimos anos escolares e valorizam também o envolvimento em atividades extracurriculares, projetos pessoais, trabalhos voluntários e experiências que contam mais sobre quem você é além da sala de aula.
A St. Paul’s School é uma escola internacional britânica que prepara os alunos para esse desafio não só acadêmica como holisticamente, oferecendo diversas possibilidades que podem maximizar as chances de ingresso em instituições de ponta fora do Brasil. Os bolsistas da Fundação St. Paul’s vivem esta jornada nos últimos anos da Educação Básica aqui na escola e, por isto, contamos com a experiência deles, junto a um especialista em Educação Superior, para trazer dicas valiosas sobre este universo. Enzo e João Gabriel, que acabaram de se formar na Class of 2025, saíram do Brasil para começar a graduação em, respectivamente, Física e Matemática, e compartilharam a seguir seus aprendizados que podem ajudar quem está em busca de uma vaga em universidades de destaque ao redor do mundo.
Escolha Planejada de Matérias
Um dos primeiros passos para uma boa inscrição universitária – chamada lá fora de application –, é um planejamento acadêmico alinhado à carreira desejada, principalmente quando o curso exige pré-requisitos específicos. Com a diversidade de disciplinas oferecidas pelo Diploma do IB, é fundamental que suas escolhas demonstrem interesse genuíno e coerência com a área pretendida, reforçando sua qualificação frente aos demais candidatos.
Porém, é importante lembrar que as universidades valorizam alunos que saibam equilibrar desafios acadêmicos com bom desempenho, buscando se destacar dentro de seus interesses. “Optei por matérias relacionadas à área de exatas que fortalecessem minha candidatura, como Physics, Computer Science e Mathematics Analysis and Approaches do tipo Higher Level”, Enzo compartilhou.
Aqui vale explicar: dentro do currículo do IB, várias matérias oferecem dois níveis, o Standard e o Higher. O Standard oferece uma visão mais geral, com menor carga horária e menos rigor em provas e trabalhos. Já o Higher Level abrange conteúdos mais extensos, mais horas de estudo, e demanda maior análise crítica. As escolhas de Enzo demonstraram que, apesar de ele estar em sua zona de conforto, ele ainda se desafia ao procurar níveis avançados dentro das disciplinas.
Atividades Extracurriculares
As atividades extracurriculares são um componente essencial em uma inscrição de destaque. Essas atividades podem ou não fazer parte da grade obrigatória do currículo britânico, e permitem que o candidato demonstre liderança, curiosidade intelectual e envolvimento com sua área de interesse para além do olhar puramente acadêmico, enriquecendo sua application.
Nessas práticas extracurriculares, o que muitas vezes se analisa são as habilidades desenvolvidas durante a atividade e não necessariamente a atividade em si. Enzo, por exemplo, jogava basquete no time da escola; porém, os fatores que podem ser mais observados, a depender da instituição, são as competências adquiridas com a prática: trabalho em equipe, resiliência e a disciplina necessária para conciliar treinos com os estudos.
João, por sua vez, acumulou diversas premiações e menções honrosas em olimpíadas de matemática, o que o ajudou a se destacar entre outros candidatos. Tais prêmios são evidências concretas de dedicação, disciplina e talento.
Outra forma de se destacar é concorrer a posições de liderança dentro da escola – como prefects, caso de Claudia e Mariana, duas bolsistas que também se formaram na Class of 2025. Além de contribuir positivamente para a comunidade escolar, ser um líder estudantil ajuda a desenvolver habilidades essenciais que serão úteis por toda a vida: comunicação, empatia, resolução de conflitos, organização, e claro, liderança. Essas qualidades não apenas te destacam dentro da escola, mas também em processos seletivos para universidades.
Dr Heitor Santos, diretor de Carreiras e Orientação Universitária na St. Paul’s School, explica mais sobre o engajamento de alunos fora da sala de aula. “Eu divido o envolvimento em atividades extracurriculares em três categorias: atividades que demonstram as habilidades de liderança do aluno, atividades voltadas para o serviço comunitário e que melhoram as condições das pessoas ao seu redor, e atividades que mostram que o aluno aproveitou oportunidades relacionadas ao curso que deseja seguir na faculdade.”
Enzo, por exemplo, se envolveu em atividades relacionadas à sua área. “Participei do Pioneer Academics, um programa de pesquisa para alunos do ensino médio, onde desenvolvi um artigo teórico sobre a aplicação do princípio variacional para estimar a energia fundamental do hélio.” Esse projeto lhe rendeu quatro créditos universitários e a certeza de que sua grande paixão era a mecânica quântica.
Além de enriquecer o perfil acadêmico, essas experiências também são uma ótima forma de verificar se você realmente se identifica com o curso que pretende seguir.
Atividades de Voluntariado e Serviço à Comunidade
Experiências com projetos voluntários e ações sociais também contribuem significativamente para enriquecer o perfil do candidato em processos seletivos universitários. Estes são aspectos extremamente importantes para instituições estrangeiras, como destaca Dr Santos. “Universidades estrangeiras estão interessadas em trazer estudantes com base em seu perfil completo, considerando tanto o desempenho acadêmico quanto as atividades extracurriculares. Apesar do acadêmico ser uma parte importante do processo, somente boas notas não garantem sua entrada na universidade.”
Dentro disto, atividades de Enrichment são uma excelente opção dentro do currículo britânico. Elas fazem parte da grade obrigatória e se diferenciam do restante das matérias, pois desenvolvem competências e interesses pessoais, podendo promover o bem-estar da comunidade e estar relacionadas às intenções profissionais de cada estudante. João Gabriel tinha um foco acadêmico claro e soube tirar proveito disto: “Pude criar um Enrichment na escola, em colaboração com os professores do departamento de matemática, que visava preparar alunos para as olimpíadas das quais participei.” Além disso, João também se envolveu em iniciativas externas, como aulas de matemática para crianças no Instituto Unidos de Paraisópolis, em São Paulo, dentro da própria comunidade.
Já Enzo se envolveu em projetos como o “Mão na massa”, um Enrichment criado por alunos em que eles constroem ou reformam a casa de pessoas com deficiência que moram em regiões de maior vulnerabilidade socioeconômica de São Paulo.
A diferença entre essas práticas mostra que um Enrichment não precisa ser necessariamente realizado dentro da sala de aula ou ter foco acadêmico, e o aluno pode explorar uma grande diversidade de opções para enriquecer seu perfil. Elas também possibilitam o desenvolvimento de habilidades interpessoais, além de demonstrarem o valor que o candidato pode agregar à universidade.
O conjunto dessas ações possibilitou que Enzo e João Gabriel apresentassem um perfil robusto, o que abriu portas para universidades de renome internacional. Enzo foi aprovado na Columbia University, University of Chicago, University of Michigan (EUA), University of Toronto (Canadá), Manchester e Edinburgh (Reino Unido), optando por iniciar sua graduação em Física em Columbia, com bolsa de estudos. João também recebeu uma oferta para a University of Chicago, onde cursará Matemática com uma bolsa de mérito voltada à pesquisa e estágios.
As trajetórias dos alunos mostram que construir um bom perfil para applications vai muito além das notas. Ele envolve escolhas acadêmicas estratégicas, envolvimento em atividades extracurriculares relevantes e compromisso com a comunidade. Ao alinhar suas ações com seus interesses e objetivos, você não só se torna um candidato mais competitivo, como também desenvolve habilidades e descobertas que vão acompanhar você por toda a vida acadêmica e profissional.